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quarta-feira, 31 de março de 2021

Epidemiologia e Serviços de Saúde 2019; 28 (1)

O desastre de Brumadinho e a atuação da vigilância sanitária

No dia 25 de janeiro de 2019, às 12h35, aconteceu o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale S.A., localizada no município de Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A barragem estava inativa desde 2015 e armazenava 12 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos da mineração de ferro.

 A lama atingiu imediatamente a estrutura da mineradora, que incluía centro administrativo, refeitório e oficinas de manutenção, terminal de carregamento e linha ferroviária. Inicialmente, a empresa informou que, quando ocorreu o rompimento, havia cerca de 300 trabalhadores no local. Também foram diretamente atingidos um vilarejo e uma pousada, onde se encontravam mais algumas dezenas de pessoas. Alguns minutos depois – quando já ceifara centenas de vidas e deixara um rastro de destruição –, a gigantesca onda de lama de rejeitos alcançou o leito do rio Paraopeba. 

O Ministério da Saúde (MS) agiu prontamente e passou a atuar de forma integrada com o município de Brumadinho e o governo de Minas Gerais, bem como junto a outros órgãos do Governo Federal, para garantir a melhor atenção à saúde da população atingida. Profissionais da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS),1 constituída pelas secretarias de Vigilância em Saúde (SVS) e de Atenção à Saúde (SAS) do MS, se deslocaram para Brumadinho, a fim de apoiar as ações de gestão da emergência, de assistência, de vigilância da qualidade da água e de saúde do trabalhador. Foi montado, provisoriamente, um Posto Médico de Atendimento próximo ao local e, logo após o rompimento, todas as equipes do SAMU 192 da região foram mobilizadas. Kits de medicamentos e insumos estratégicos, vacinas e 150 leitos hospitalares foram disponibilizados para atendimento à população atingida. Além disso, veículos com tração 4x4 foram doados ao Município de Brumadinho e ao Estado de Minas Gerais para reforçar as ações de vigilância em saúde nas áreas de difícil acesso atingidas pela lama. Pouco mais de uma hora depois do desastre, a SVS instalou o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COES),2 com participação da SAS e das Secretarias Executiva e de Saúde Indígena; complementarmente, as áreas técnicas da própria SVS foram acionadas. Cerca de 70 profissionais trabalharam no suporte às ações de campo e na gestão do plano emergencial de saúde, em atividades realizadas 24 horas por dia, durante 7 dias, até sua desmobilização no dia 14 de março.

 O Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST)3 da SVS, que coordena o COES, passou a monitorar os impactos diretos e indiretos sobre a população relacionados com a contaminação química da água para consumo humano, alimentos e solo; o comprometimento da rede e fontes alternativas de abastecimento de água; a alteração no ciclo dos vetores, hospedeiros e reservatórios de doenças; e a alteração nas formas de exposição ambientais. Além disso, forneceu apoio adicional ao Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Betim/MG, indicado como referência para as ações de apoio aos trabalhadores atingidos. As áreas técnicas da SVS realizaram levantamento da situação de saúde nos 18 municípios às margens do rio Paraopeba, visando fornecer subsídios para a avaliação dos possíveis impactos do desastre. Uma semana após o rompimento, haviam sido contabilizadas 110 vítimas fatais, das quais 71 foram identificadas; 192 pessoas resgatadas; 395 localizadas, 108 desalojadas e 238 desaparecidas. Naquele momento, a probabilidade de se encontrarem sobreviventes era mínima, e esses números alarmantes já caracterizavam o desastre de Brumadinho como o maior acidente de trabalho da história do Brasil. Ressalte-se, contudo, que ainda podem ocorrer mais danos à saúde das populações que vivem próximas ao rio Paraopeba, em decorrência do risco de contaminação da água e do solo por metais pesados. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e a Agência Nacional de Mineração (ANM) informaram que a barragem da Mina Córrego do Feijão tinha grande potencial poluidor

É pertinente lembrar o desastre ocorrido em 5 de novembro de 2015, no município de Mariana, no mesmo estado de Minas Gerais, quando a barragem de Fundão se rompeu, causando o vazamento de 70 milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos da mineração de ferro. Considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil, atingiu uma extensão territorial muito superior à do desastre de Brumadinho, embora tenha resultado em um menor número de mortes (19). Os danos ambientais ainda não foram superados e tiveram consequências sobre a saúde da população não somente do local, mas também de toda a bacia do rio Doce, cujas águas permanecem impróprias para consumo, devido à contaminação com metais pesados. Além das doenças relacionadas à qualidade da água, a população atingida pelo desastre de Mariana vivenciou o recrudescimento de outros problemas de saúde, como as doenças transmitidas por vetores, doenças respiratórias e agravos à saúde mental. 

Em ambos os casos, é importante contextualizar os desastres em um cenário de exploração dos recursos naturais por grandes empresas de capital internacional, que implica o acirramento das desigualdades econômicas, territoriais, ambientais e sociais que, por sua vez, promovem iniquidades em saúde. Também são evidenciadas as dificuldades dos trabalhadores e comunidades na defesa de seus direitos. Nesse contexto, e face à existência de dezenas de barragens no território brasileiro que se encontram em situação semelhante às citadas, é patente a relevância do SUS e a necessidade do fortalecimento dos sistemas de vigilância em saúde do trabalhador e ambiental, bem como de gestão de emergência em saúde pública e resposta a desastres. Convém destacar que o mais importante é o fortalecimento dos entes locais (municípios), para que estes tenham capacidade de resposta e recuperação frente às emergências em saúde pública. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),4 também conhecidos como Objetivos Globais, adotados pelos países-membros das Nações Unidas em sucessão aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM),5 contemplam, no Objetivo 3 – Saúde e bem-estar, as seguintes metas: (i) reforçar as capacidades nacionais para o alerta precoce, redução e gerenciamento de emergências e riscos (meta 3D); e (ii) reduzir substancialmente o número de mortes e doenças por produtos químicos perigosos, contaminação e poluição do ar, da água e do solo (meta 3.9). A organização do processo de gestão de emergência em saúde pública – em seu contexto de redução do risco, manejo da emergência e recuperação dos seus efeitos – é essencial para que o MS, suas unidades vinculadas e as demais esferas de gestão do SUS atuem de forma coordenada e oportuna. Somente uma atuação coordenada no âmbito do SUS poderá atender bem às populações atingidas, de modo a minimizar os danos à saúde humana e ambiental. Ademais, o fortalecimento da vigilância em saúde é fundamental para que o Brasil alcance as metas dos ODS, contribuindo assim, nos âmbitos nacional e global, para o desenvolvimento sustentável. 

Abaixo alguns artigos:

Mortalidade no primeiro dia de vida: tendências, causas de óbito e evitabilidade em oito Unidades da Federação brasileira, entre 2010 e 2015

Análise espacial dos homicídios intencionais em João Pessoa, Paraíba, 2011-2016

Incidência da leptospirose em uma capital da Amazônia Ocidental brasileira e sua relação com a variabilidade climática e ambiental, entre os anos de 2008 e 2013

Disponível em: Epidemiologia e Serviços de Saúde 28 (1); 2019

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Epidemiologia e Serviços de Saúde 2017; 26 (4)


"Neste ano em que celebra seus 25 anos, a Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (RESS) alcançou importantes conquistas. Após sua indexação na base MEDLINE®, no final de 2016,1 em 2017 foi indexada nas bases bibliográficas Scopus, Embase (ambas da empresa Elsevier) e Emerging Sources Citation Index (ESCI, um novo indexador da Web of Science, da empresa Clarivate Analytics). Estas indexações marcam o início de um novo período para a RESS, com maior alcance e visibilidade internacional. Outra conquista relevante da RESS em 2017 foi o alcance da 18ª posição no ranking do Google Acadêmico, entre todos os periódicos científicos publicados em língua portuguesa no mundo. A cada ano, a RESS vem subindo neste ranking, no qual ocupou a 33ª posição em 2016. Além disso, a RESS foi classificada no estrato Qualis B2 pela comissão de avaliação da área da Saúde Coletiva da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na avaliação referente ao quadriênio 2013-2016.2 Com estas conquistas, a RESS se posicionou entre os principais periódicos da área da Saúde Coletiva no Brasil e no mundo. A capacidade de comunicação científica da RESS também foi incrementada. Em 2017, a RESS inaugurou seu blog (disponível em: https://revistaress.blogspot.com.br/), sua conta na rede social Twitter e logrou incremento considerável no número de seguidores na rede social Facebook (disponível em: https://www.facebook.com/ress.svs), que superou a marca de 5 mil seguidores. Neste ano, também foram realizadas duas edições do Prêmio RESS Evidencia, concernentes aos melhores artigos publicados nos anos de 2015 e 2016. Ao encerrar um ano de conquistas e celebrações, a RESS publica artigo especial que busca empreender uma revisão de sua história, desde sua criação em 1992, como Informe Epidemiológico do SUS (IESUS), passando por sua transformação em revista, em 2003, até o momento atual.3 O estudo em pauta descreveu os assuntos abordados e a abrangência geográfica das instituições de vínculo dos autores dos artigos publicados no IESUS (1992-2002) e na RESS (2003-2016); e mapeou as políticas e estratégias editoriais da RESS nas seguintes áreas de foco: educação, informação, comunicação, corresponsabilidade e antecipação.4 Ao revisitar o passado, a RESS lança seu olhar para o futuro. A revista foi alicerçada sobre sólidas bases, com destaque para sua vinculação institucional à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), bem como para a composição de seu Corpo Editorial, que inclui membros internos e externos à SVS/MS. Estas características possibilitaram a continuidade da revista em seus 25 anos de existência, com a garantia de sua autonomia editorial e a adoção dos mais elevados padrões editoriais e éticos na publicação científica. Futuramente, sua equipe continuará trabalhando para que a RESS permaneça no exitoso caminho de crescimento e aumento da visibilidade, e se consolide no meio editorial nacional e internacional como periódico de caráter único, que privilegia a divulgação do conhecimento epidemiológico aplicável aos serviços de saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde do Brasil e promove uma importante aproximação entre esses serviços e a academia."

 Alguns artigos: